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  • Foto do escritorPedro Ferrão

O MUNDO, O TRABALHO E O SINDICALISMO EM TEMPOS DE SOCIEDADE HIPERCONECTADA VIA INTERNET

Autor: Aristogiton Moura

Nota para a 8ª Carta de Conjuntura da USCS


Resumo Executivo

A presente nota tem como foco as causas do desmonte das instituições tradicionais da sociedade, responsáveis pelo equilíbrio social e político, como são os sindicatos. Também aborda o impacto e as consequências originadas pela transição da forma de se comunicar e atuar das organizações e das pessoas do mundo físico para o virtual. O campo de interesse específico nesta é o trabalhismo, sua debilidade frente à nova realidade e os caminhos que tem que seguir para continuar ativo e necessário para o mundo do trabalho e do emprego. Destaca as teorias, métodos e ferramentas que esse tem que incorporar para continuar fazendo a necessária mediação entre o capital e o trabalho no mundo da indústria 4.0 e das cooperativas de plataformas.


A internet e a economia digital

Para entender o fenômeno da desconstrução do mundo do trabalho pela irrupção das novas tecnologias, principalmente as de comunicação e informação, recorremos ao pensamento do filósofo francês Pierre Lévy1, pesquisador das tecnologias da inteligência que investiga as interações entre informação e sociedade. Segundo ele, as potencialidades das interações coletivas trazidas pela internet mudaram nossa concepção de realidade. Hoje, o virtual é uma potência do real, e vice-versa, “nos mostrando que a rede expandiu questões que sempre enobreceram o desenvolvimento humano como também propagaram os nossos piores conflitos”.

Esta nova realidade afetou enormemente a forma como vivemos, trabalhamos, nos relacionamos e organizamos as referências com as quais balizamos, até então, a nossa posição no mundo. Isto explica a enorme dificuldade das pessoas e das organizações para transitarem nesse novo tempo. Entender o impacto causado pela internet, que está transformando aceleradamente o nosso mundo, bem como seu caráter totalizante, é condição essencial para atuar nas esferas pública, política, profissional ou pessoal.

Um dos aspectos mais afetados por essa transição é o mundo do trabalho, com mudanças significativas nas relações trabalhistas e no nível de desemprego. As notícias não são boas, o que conhecemos como emprego no mundo atual está em transição. No mercado privado, o primeiro a sofrer os impactos desta onda, os números são devastadores, tanto na quantidade quanto na qualidade do emprego. Segundo o informe The Future of Jobs2, publicado em 2016 pelo Fórum Econômico Mundial, cerca de 7 milhões de empregos devem desaparecer até 2021,principalmente em escritórios, fábricas e produção. Em contrapartida, serão criadas apenas cerca de 2 milhões de vagas relacionadas com Inteligência Artificial, robótica, nanotecnologia e impressão 3D. Ou seja, um contingente mais de 5 milhões de empregados, especialmente os com melhor formação, engrossarão as estatísticas de desempregados pelas revoluções tecnológicas ou migrarão para os novos serviços trazidos pela internet.


Economia digital e o novo mundo do mercado

A economia digital, apresentada como a panaceia que resolverá os problemas do mundo do emprego on-line, não é o oásis que as cinco maiores empresas deste ecossistema— as GAFAM3 (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft – as gigantes da web) querem vender. Os impactos já sentidos mostram um conjunto de fatores que estão estruturando esse ecossistema de uma forma perversa. Um dos principais efeitos é o fato da força de trabalho, principalmente jovens e desempregados, estar migrando para a Economia do Compartilhamento, como definido por Trebor Scholz4. Segundo ele: “aquela que é retratada como um prenúncio para a sociedade pós-trabalho – o caminho para o capitalismo ecologicamente sustentável onde o Google vencerá a própria morte e você não precisa se preocupar com nada. Com o slogan O que é meu é seu, o cavalo de Tróia da economia do compartilhamento nos traz formas jurássicas de trabalho enquanto desencadeia uma máquina antissindical colossal, passando por cima de trabalhadores, especialmente sobre os mais velhos”.

A economia digital, que deveria representar um mundo de liberdade sem limites para a vida, trabalho e escolhas individuais, no qual a internet propiciaria as oportunidades necessárias para eliminar o complexo sistema de intermediações do mundo off-line, não é tão simples assim. Em primeiro lugar, os serviços oferecidos por essas empresas virtuais, das quais dependemos para viver neste contexto, como comer (ifood), trabalhar (linkedin) ter mobilidade (uber), que estão agora acessíveis em poucos toques, na tela do celular, não são isentos e nem tampouco grátis, como fazem supor. O fato de elas estarem no portfólio das que receberam investimentos da GAFAM, põe em xeque a isenção da economia digital e pode explicar o fenômeno da elevada concentração da riqueza e disparidade social no mundo atual. Segundo John Duda5:

a Internet certamente não está ajudando. Ela é impulsionada pelo pensamento de curto prazo e lucros corporativos; ela é direcionada pela indústria de capital de risco e está contribuindo para a concentração de riqueza em poucas mãos”.

Economia digital e o novo mundo político

Como no mundo privado, esse processo está descontruindo as formas organizativas e de relacionamento que vinham mantendo o que entendíamos por mundo político real (off-line) e sustentou o status quo político que a geração que está no poder conheceu, se formou e ainda transita. As instituições mais atingidas pela onda digital são aquelas que são mais caras à democracia – proteção, equilíbrio social e a liberdade – representadas pelos governos, partidos políticos e sindicatos. Estas foram moldadas no mundo sólido6 em que a burocracia e os processos eram fatores críticos para a atuação nos desenvolvimentos social, econômico e sustentável, bem como na defesa e proteção dos interesses e direitos da sociedade e dos trabalhadores. Todas essas instituições estão sendo tragadas pela onda digital advinda da revolução no campo das tecnologias da comunicação e informação, impulsionada pela internet e pelas redes sociais.

A burocracia tradicional7 que teve um papel significativo na estruturação da sociedade, do governo, dos sindicatos e dos partidos até o século XX, está perdendo sua importância pelas mesmas razões que contribuíram para o seu sucesso. A máquina burocrática, formada numa sociedade industrial, principalmente a partir da Primeira e da Segunda Revolução Industrial, foi concebida sob o manto de uma teoria autoritária, baseada em métodos determinísticos e por tecnocratas distantes da política. Os desafios que enfrentava eram tratados com abordagens unidimensionais, métodos e processos que já não respondem à incerteza e à complexidade dos problemas sociais atuais, fazendo com que governo, sindicatos e a política sofram de cegueira situacional, condição que os impede de enxergar uma realidade para a qual não têm conceitos e nem vocabulário para explicá-la e nela atuar.

Essa crise estrutural faz com que essas instituições, responsáveis pelo equilíbrio da sociedade, continuem presas a um passado do qual não conseguem escapar e que se mostra aparentemente imutável no tempo presente. Submetidas a um modelo de governança ideológico ultrapassado, não conseguem desenvolver qualquer processo político renovador. Vivemos sob o desamparo de instituições ultrapassadas, com agendas desfocadas e atreladas a interesses privados e de grupos de pressão, que não conseguem estabelecer uma agenda renovada e conectada com a sociedade.

Essa realidade mostra os indicadores mais significativos do hiato entre os mundos sólido e líquido: um país sem direcionalidade estratégica, uma sociedade desarticulada e politicamente cindida, uma sobre-exposição da falência do estado, traduzida em problemas como a violência urbana descontrolada, o desemprego elevado, o crescimento econômico insuficiente, a acumulação de renda e de poder numa elite descompromissada com a democracia e um “sem rumo e sem esperança” que nos entorpece e esvazia a nossa capacidade de reagir.

Analisando com acurácia o impacto dessa realidade nas instituições, vemos que esse não é um problema provocado só pela revolução digital, pois os seus sinais de desgaste podem ser encontrados em tempos pré-internet. Carlos Matus8 já apontava, na década de 1990, as possíveis causas9, para o descrédito da população no sistema, como um todo, que deveria representá-la:

A política está desfocada dos problemas da cidadania. Ela gera os seus próprios problemas e os políticos se dedicam a resolver os problemas da política e não das pessoas.

Os dirigentes políticos creem que basta a improvisação, a experiência, o bom senso e sua formação acadêmica para governar. Não basta um bom médico para ser um bom ministro da saúde e um bom economista não é necessariamente um bom ministro da fazenda. Ambos, por sua formação departamentalizada, tem um elevado nível de I2 (ignorância ao quadrado = não sabem que não sabem), desconhecem que para governar têm de conhecer Ciências e Técnicas de Governo.

Nos nossos países, domina um sistema de baixa responsabilidade – ninguém cobra contas por desempenho a ninguém – portanto tanto faz, na política, fazer bem, fazer mal ou até mesmo não fazer. Isto facilita que o poder esteja contaminado pela mediocridade, pela falta de ética e principalmente abre as portas à corrupção. Nesse ponto de vista, a corrupção não é um problema em si, mas um subproduto da mediocridade política.

Os partidos políticos, tal como estão, são meros clubes eleitorais. Estão estruturados apenas para ganhar eleições e manter-se no jogo político eleitoral, afora isso não participam do enfrentamento dos problemas sociais que afetam a cidadania. Suas estruturas estão constituídas para ganhar eleições. Eles não participam e nem alimentam agendas políticas estruturantes, pois não possuem centros de formação para os seus dirigentes, não se preocupam com a formação de seus líderes políticos e não têm estruturas de inteligência para pensar no longo prazo.

São sistemas ultracentralizados, muito distantes da cidadania e de seus problemas. Esses sistemas cegam os dirigentes tradicionais, fazendo com que suas agendas só tenham rotinas, emergências, administração e crises. Os temas estratégicos para eles são apenas aqueles relacionados à manutenção do poder pelo poder. Existe nisso um grande problema de democratização que passa pela descentralização profunda do sistema político, que deveria ser abordado com urgência.

Tal situação tem provocado uma crise no nível macro político, contexto em que a política, o governo e os sindicatos atuam para a dinâmica e o equilíbrio social, intitulada por Matus de baixa capacidade de governo. Crise que se intensifica em contraste com o avanço impressionante da tecnologia. A complexidade e intensidade dos problemas atuais estão cada vez mais distantes destas Instituições. A democracia, nos tempos modernos, ganhou terreno frente ao autoritarismo. Entretanto, a democracia vem se debilitando pela sua crescente inefetividade. Isto provoca a desilusão do cidadão comum que se afasta da Política (com P maiúsculo) e esta perde espaço para a política (com p minúsculo). O governo e as novas tecnologias estão de costas um para o outro. A democracia perde seu atrativo, sem ter, até o momento, competidores viáveis. Seus defensores não sabem defendê-la; a democracia sobrevive ante o vazio de outras opções.


Os sindicatos, o problema da legitimidade e da capacidade de atuação no contexto trabalhista brasileiro


Os Sindicatos sofrem do mesmo mal que afeta o Governo e os Partidos. Oriundos da mesma matriz que os estruturou e deu sentido, padecem das mesmas deficiências e incapacidades, e não estão conseguindo fazer a transição de suas estruturas dos tempos sólidos para os tempos líquidos, como bem definiu Baumann10.

Esta situação se deve a fatores estruturais e conjunturais. Em relação aos estruturais, Trebor Scholz, já referido, aponta que a internet migrou a economia tradicional de oferta para a economia moderna sob demanda, a economia do compartilhamento. Ele fala de uma força global e maciça em favor de “construtores de pontes digitais” que se inserem entre os que oferecem serviços e os que buscam tais serviços, imbricando assim processos extrativos em interações sociais.

Essa nova condição redesenha tanto a forma de produzir, distribuir e consumir, quanto a forma de governar e representar. Os governos, partidos e sindicatos vivem no mundo off-line, enquanto a sociedade, os eleitores e os sindicalizados já vivem no on-line. A causa da falência dos primeiros é a incompatibilidade dos sistemas e suas práticas para atender às demandas e necessidades destes últimos.

Em relação aos fatores conjunturais Carlos Fara11, analisando a situação dos partidos argentinos, elenca três pontos críticos que podem explicara raiz dessa problemática. Em primeiro lugar aponta a fragmentação da base social dos partidos. Segundo ele, a estrutura ocupacional do mundo está mudando em grande velocidade para postos de serviço individuais, instáveis ​​e voláteis. Quando o mundo do trabalho muda, todas as suas fundações superestruturais sofrem.

Em segundo está a fragmentação do sindicalismo; como resultado disto, a representação sindical passa pelo mesmo processo, sendo mais compartimentada do que nunca. Carlos Fara afirma que a espinha dorsal do movimento sindical tradicional está quebrada e talvez não haja como recompô-la. E finalmente destaca a supremacia da virtualidade sobre a territorialidade: o sindicalismo nasceu em um contexto de lógica territorial que está perdendo espaço em uma sociedade do século XXI, estruturada por vínculos voláteis e efêmeros — líquidos —que relativizam e enfraquecem o domínio clássico dos partidos do século XX.

Enfrentar esse megaproblema requer uma nova capacidade, que deve ser sustentada por inteligência e nas capacidades e conhecimentos próprios do mundo líquido. Fazer a transição entre esses mundos é uma tarefa hercúlea, pois essa ação vai atacar os fundamentos e os esteios que estruturaram o sindicalismo, tal como ele existe hoje. Embora perdendo a sua capacidade de atuar e a legitimidade ante os sindicalizados, os movimentos sindicais vem se mantendo como organizações focadas na sobrevivência pura e simples e perdendo cada vez mais espaço no jogo do trabalhismo brasileiro.

O velho-novo problema do trabalhismo e a nova realidade trabalhista

O sintoma mais grave da crise vivida pelo trabalhismo no campo privado é que a economia das cooperativas de plataformas (uberização do trabalho14) criou uma fantasia na qual o trabalhador, embora explorado, se sente “livre” das amarras do trabalho industrial (8h/dia, 40h/semana, carteira assinada, férias, comprometimento com uma única empresa) e enfrenta uma realidade de ser freelancer ou autônomo, em que pretensamente não tem patrão e nem horário fixo. Tom Slee[i] adverte que “muitas pessoas bem-intencionadas sofrem de uma fé equivocada nas habilidades intrínsecas da Internet de promover comunidades igualitárias e de confiança e, assim, inadvertidamente ajudaram e incitaram essa acumulação de fortuna privada e a construção de novas formas exploradoras de emprego. Ou seja, em nome do novo trabalhismo, os trabalhadores estão perdendo salário mínimo, horas extras e proteções asseguradas por leis trabalhistas”.

O trabalhismo aqui entendido como teoria que preconiza a hegemonia do trabalho na vida econômica e política de uma nação, é uma boa referência para avaliar os impactos da revolução tecnológica no movimento sindical e importante tema para entender a problemática que os partidos estão enfrentando e o desgaste que estão sofrendo. Como Antônio Gramsci12 já dizia em seus Cadernos do Cárcere: “A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece”.

Os partidos vivem tempos transformadores e revolucionários, há uma clara e profunda transformação no mundo do trabalho, em que o papel do trabalhador e do sindicato estão sendo redesenhados, numa relação absolutamente assimétrica entre o capital e o trabalho. O primeiro dispara amparado pela revolução tecnológica, enquanto o segundo se desmancha como gelo ao sol. A tecnologia está expulsando o trabalhador humano e dando vez à robótica e à computação e transformando o trabalhador no novo escravo das corporações tecnológicas, no campo dos serviços.

O mundo do trabalho e suas organizações não entendem esse fenômeno e não têm recursos para enfrentar essa revolução. Sabem que ela está acontecendo, sofrem seus efeitos, mas não sabem o que fazer. Suas estruturas, fundadas no mundo sólido, tentam reagir com as ferramentas tradicionais como greve, denuncias e mobilização das categorias. Tentam falar e convencer quem já vive a realidade do mundo virtual (on-line) em seu dia a dia, com os recursos do passado, mas não conseguem.

Máquinas e tecnologias, não são responsáveis, por si só, pela batalha travada entre o velho e o novo, de que fala Gramsci. Hoje, o abismo entre o capital e o trabalho deve-se ao nível, a qualidade e a atualidade da inteligência empregada pelos atores políticos destes campos. O objetivo desta é conquistar corações e mentes. A tecnologia da internet propiciou que as massas (consumidores, sindicalizados, eleitores) saíssem da classificação homogeneizante do coletivo e passassem a ser tratadas como indivíduos únicos, criativos e participantes de diferentes jogos e espaços sociais. E o mais importante, falar e ser ouvido.

A inteligência estratégica aplicada nos novos jogos é a pedra de toque que está desmoronando o mundo sólido e constituindo o mundo líquido. Saber como se estruturar, se organizar e atuar neste espaço é o desafio primordial para o movimento sindical.

Nesse contexto, a estratégia sindical tem de ocorrer dentro de um projeto de modernização que seja capaz de transformar os sindicatos de meros espectadores em jogadores políticos atuantes e criativos no mundo virtual (on-line), para dar respostas às demandas urgentes (e inadiáveis) do mundo do trabalho. Isso poderá ser concretizado por meio da construção de um projeto de futuro que lhes dê a capacidade de levar sua luta para esse mundo. Isto implica lutar contra o peso paralisante do passado e se preparar para a construção do novo mundo sindical, pois, independente da forma como o capital vai se estruturar, o trabalho será sempre necessário e a relação entre eles tem de ser mediada.

A modernização da atividade sindical – mapa para trazer os sindicatos para o século XXI

Para modernizar a atividade sindical no Brasil, de forma que ela possa adquirir as capacidades necessárias e suficientes para enfrentar as drásticas mudanças no mundo do trabalho, é urgente repensar e redesenhar a forma de se organizar e atuar neste novo ecossistema. O ponto crítico deste desafio é a criação de um espaço de inteligência estratégica, na cabeça do movimento, que seja capaz de trazer para o sindicalismo os meios, conceitos e vocabulários para explicar e atuar nesse novo mundo e que permita a criação dos mapas situacionais para que os sindicatos e os trabalhadores possam, em igualdade de condições, negociar seus interesses e posições no novo jogo que se estabelece.

Embora pouco divulgado, o novo conhecimento para este novo jogo já está sistematizado e disponível na Teoria do Jogo Social15, de Carlos Matus, que, aliada à inteligência aplicada à internet e às redes sociais, constituem o mapa de voo para esse empreendimento. Esta Teoria abarca conhecimentos que vão desde a explicação da natureza dos conflitos políticos e ideológicos subjacentes, o peso e natureza das variáveis da equação tecnológica do processo, até o aporte das ferramentas metodológicas para enfrentar a incerteza e a surpresa no cálculo estratégico. Está atualizada para trabalhar no novo mundo digital e em rede com os trabalhadores conectados, entendendo-os como indivíduos criativos, inseridos em redes coletivas, que atuam e influem em problemas de diferentes níveis de governabilidade, antes monopólio dos âmbitos organizacionais e das estruturas burocráticas sindicais.

A transição entre o mundo real (off-line) e o virtual (on-line) deve ser feita com conhecimentos que permitam o desenho de novos mapas. O uso de mapas (mentais, situacionais, estratégicos) permite a criação de um novo vocabulário e, consequentemente, de instrumentos de navegação na nova política e no novo sindicalismo. Para melhor compreensão do conceito cartográfico aqui aplicado, recorremos ao filósofo espanhol Daniel Innerarity, em sua explicação “a política em uma área de sinalização escassa13. Segundo ele o mundo moderno trouxe um sem número de informações de como se conduzir nele, a tecnologia popularizou:

mapas, indicações, referências, bússolas e outros sistemas cada vez mais sofisticados nos dizem onde estamos, para onde estamos indo e qual é a natureza dos elementos com os quais nos encontraremos em nosso deslocamento”.

O problema é quando saímos do mundo físico para o político. Este último não tem as referências que o primeiro conseguiu estabelecer no mundo virtual, vez que, segundo Innerarity envolve:

julgamentos de valoração: então o que nos interessa são questões como a de saber em que consiste a legitimidade; se algo é democrático; e quem tem autoridade para decidir o que ou a quem atribuir certas responsabilidades. Entramos em um momento histórico em que todos esses assuntos se tornaram especialmente controversos. A política entrou em uma área de sinalização insuficiente”.

Sob esse ponto de vista, a política na internet mais confunde que orienta. Onde havia evidências agora temos paradoxos. Ao contrário do que aconteceu com a cartografia do mundo físico que se beneficiou com a migração para o digital a política tornou-se mais complexa e difícil de ser entendida e explicada, pois o aumento de informações conseguidos no espaço digital, aos invés de melhorar a capacidade de análise e condução da política só tornou obsoletos os analistas políticos, pois “na política e na realidade atual, o aumento do espaço de análise só traz mais coisas que não são o que parecem e tudo está repleto de efeitos colaterais”.

Entender essa nova conjuntura, saber transitar nesses novos espaços e fazer a transição necessária entre os mundos real (off-line) e virtual (on-line) requer teorias e técnicas de governança capazes de dar suporte à mediação entre o mundo determinístico e estável do governo do século XX e o mundo complexo, líquido e conectado do século XXI, aqui fundamentadas na obra de Carlos Matus, construída para ajudar a entender a complexidade desse novo momento e as formas de modernizar a atividade sindical.


Quadro 1: sindicalismo em tempos de sociedade hiperconectada via internet

Informe The Future of Jobs (2016), do Fórum Econômico Mundial: 7 milhões de empregos devem desaparecer até 2021 (em escritórios, fábricas e produção). Serão criadas apenas cerca de 2 milhões de vagas relacionadas com Inteligência Artificial, robótica, nanotecnologia e impressão 3D. Mais de 5 milhões de empregados, especialmente os com melhor formação, engrossarão as estatísticas de desempregados pelas revoluções tecnológicas ou migrarão para os novos serviços trazidos pela internet.

O sindicalismo nasceu em um contexto de lógica territorial que está perdendo espaço em uma sociedade do século XXI estruturada por vínculos voláteis e efêmeros — líquidos —que relativizam e enfraquecem o domínio clássico dos partidos do século XX.

O mundo do trabalho e suas organizações (...) sabem que a revolução está acontecendo, sofrem seus efeitos, mas não sabem como reagir. Suas estruturas, fundadas no mundo sólido, tentam reagir com as ferramentas tradicionais como greve, denuncias e mobilização das categorias. Tentam convencer quem já vive a realidade do mundo virtual (on-line) em seu dia a dia, com os instrumentos do passado, mas não conseguem.

A estratégia sindical tem de ocorrer dentro de um projeto de modernização que seja capaz de transformar os sindicatos de meros espectadores em jogadores políticos atuantes e criativos no mundo virtual (on-line), para dar respostas às demandas urgentes (e inadiáveis) do mundo do trabalho. Isso poderá ser concretizado por meio da construção de um projeto de futuro que lhes dê a capacidade de levar sua luta para esse mundo. Isto implica lutar contra o peso paralisante do passado e se preparar para a construção do novo mundo sindical, pois, independente da forma como o capital vai se estruturar, o trabalho será sempre necessário e a relação entre eles tem de ser mediada.

Cabe criar um espaço de inteligência estratégica capaz de trazer para o movimento sindical os meios, conceitos e vocabulários para explicar e atuar nesse novo mundo e que permita a criação dos novos mapas situacionais por meio dos quais os sindicatos e trabalhadores possam, em igualdade de condições, negociar seus interesses e posições no novo jogo que se estabelece.

O momento requer um novo corpo dirigente que entenda que as regras da construção do poder já não estão mais garantidas pela hierarquia ou pela posição de pessoas e organizações, mas sim pela autoridade que se obtém de ideias, conteúdos, consensos e relações no mundo virtual (on-line). Essa mutação na prática política sindical abre espaço para novos olhares e abordagens complexos, que não podem ser resolvidos com privilégios ideológicos, lugares comuns e clichês. O novo corpo dirigente sindical será aquele capaz de estruturar um novo modelo de representação trabalhista, o Sindicalismo Inteligente


Elaboração própria do autor para o Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS, o CONJUSCS.

Capacidades, métodos e sistemas para atuar na nova realidade trabalhista brasileira


O princípio e o fim do processo de modernização da máquina sindical são os seus dirigentes e suas equipes estratégicas, que precisam de ferramentas e técnicas para atuar no novo jogo político do trabalho, pois sabem que as atuais estruturas e práticas já não respondem e nem fazem sentido para a classe trabalhadora hiperconectada. Ademais, vivenciamos o esgotamento da liderança sindical tradicional, o que impõe a necessidade de formar um novo tipo de liderança, que seja capaz de unir arte e talento com conhecimentos em Ciências e Técnicas de Governo, com a capacidade de atuar no mundo virtual, para modernizar a gestão e a forma de fazer política das organizações sindicais, de maneira que possam voltar a mobilizar a classe trabalhadora, em torno do tema trabalho em tempos de sociedade e economia hiperconectadas.

O momento requer um novo corpo dirigente que entenda que as regras da construção do poder já não estão mais garantidas pela hierarquia ou pela posição de pessoas e organizações, mas sim pela autoridade que se obtém de ideias, conteúdos, consensos e relações no mundo virtual (on-line). Essa mutação na prática política sindical abre espaço para novos olhares e abordagens complexos, que não podem ser resolvidos com privilégios ideológicos, lugares comuns e clichês. O novo corpo dirigente sindical será aquele capaz de estruturar um novo modelo de representação trabalhista, o Sindicalismo Inteligente:


Quadro 2: O Sindicalismo Inteligente

· É aquele centrado em resultados efetivos para a nova classe trabalhista conectada, ou seja, aquele que se antecipa às demandas dos representados, oferecendo direcionalidade e capacidade estratégica para atuar no novo mundo do trabalho e atender às necessidades trabalhistas da ‘modernidade líquida’, mediante um ativo trabalho de orientação, negociação, defesa de direitos e serviços, de forma descentralizada e personalizada;

· É aquele que, com um pé no mundo físico (off-line) e outro no virtual (on-line), consegue modernizar suas estruturas e ser um elemento catalizador e mediador das novas relações trabalhistas. Atua numa realidade mutante, em que os fatores e os meios de produção caminham para automatização e a robotização, que são menos demandantes de trabalho humano, num ambiente especializado ao extremo e baseado nos serviços de cooperativismos de plataformas (Uberização dos serviços);

· Possui instrumentos para pensar o futuro e formar a nova direção estratégica;

· Usa Inteligência aplicada a estratégias on e off-line;

· Tem estratégias fortalecidas por inteligência para atuar no novo contexto trabalhista;

· Sua ação é planejada estrategicamente de forma preventiva, antecipando conflitos e atuando em situações de incerteza e complexidade;

· Seus serviços são de natureza cognitiva e estão inseridos em jogos políticos concretos.


Elaboração própria do autor para o Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS, o CONJUSCS.


Isto implica formar o novo sindicalista para o novo momento sindical. Este será aquele que, por sua formação em Ciências e Técnicas de Governo, não presume por conhecido os objetivos sociais e políticos do seu projeto. Antes pelo contrário, seu âmbito de atuação o move a tornar possível o diálogo entre a política e a técnica para discutir, tanto a direcionalidade (objetivos) quanto as diretivas (operações e meios). Seu espaço de atuação é toda a sociedade sob o foco do trabalho e em rede. Esse enlace entre o político e o técnico é necessário para que os conhecimentos de ambos, não só interatuem vetorialmente na explicação situacional, como também possam ajudá-los a enfrentar problemas complexos e atuar em ambientes conflitivos, tanto no mundo físico (off-line) quanto no virtual (on-line). Assim, as capacidades necessárias para a nova governança efetiva do século XXI, são:


Quadro 3: Capacidades necessárias para a nova governança efetiva do século XXI

· Capacidade para se situar no novo contexto trabalhista mundial vinculado à revolução 4.0, à internet e à economia de plataformas;

· Entender as novas propostas políticas trazidas no contexto trabalhista que respondem às demandas dos afiliados e não as provenientes de agendas burocráticas;

· Saber planejar e atuar nos meios sindicais, políticos, empresariais e governamentais, com métodos que possibilitem enfrentar problemas complexos e em meios de incerteza e conflito;

· Adquirir conhecimentos e ferramentas que ajudem a formar o novo dirigente sindical para atuar na nova realidade trabalhista, ou seja, capacidade de ler, escutar, entender e atuar em redes;

· Capacidade de analisar a realidade trabalhista, de construir narrativas políticas que possibilitem atuar no novo contexto sindical trazido pelas TIC’s e de identificar como se faz política nesse ambiente;

· Adquirir a capacidade, a partir do aporte teórico metodológico adequado, de elaborar uma direcionalidade estratégica para dar base a um projeto político de longo prazo.


Elaboração própria do autor para o Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS, o CONJUSCS.


Sistematizar a inteligência destes movimentos e governar através de sistemas inteligentes, deve ser a prioridade de todas as instituições e organizações trabalhistas. Significa transitar por ambientes complexos, abordando riscos, antecipando o futuro, gerindo a incerteza, garantindo a sustentabilidade e a estrutura de responsabilidades, pensar de forma holística e configurar sistemas inteligentes (tecnologias, procedimentos, regras, protocolos). Somente através de tais dispositivos de inteligência coletiva é possível chegar a um futuro que já não é a continuação pacífica do presente, mas uma realidade nebulosa, cheia de oportunidades e, por essa mesma razão, também contém potenciais riscos difíceis de identificar.

Comunicação como fator-chave de modernização da atividade sindical brasileira

A comunicação política é um diferencial para a atuação estratégica nos novos ambientes políticos e trabalhistas originados no contexto do século XXI ─ um componente crítico para dirigir e fazer política sindical nos tempos de internet e de redes sociais. Afinal, uma ação de comunicação, pensada e estruturada em processos tradicionais, já não é o bastante para o atual momento sindical, porque este modelo mais afasta os trabalhadores do que os informa e agrega.

Aqui se postula a necessidade de se conceber um tipo de comunicação estratégica que seja capaz de falar com os trabalhadores nos diferentes espaços do trabalhismo. Baseia-se no princípio de que as decisões de gestão sindical só podem ser realizadas com uma comunicação planejada, e não da maneira habitualmente feita, usada apenas para comunicar atos oficiais e organizativos, e não para ser um elemento estratégico de construção de viabilidade em projetos políticos para o segmento sindical. A gestão da comunicação nesse segmento foi concebida para ser uma “área de apoio” para as esferas centrais de decisão e ação, não fazendo parte da linha estratégica do sistema de decisão.

Por óbvio, a realidade tem mostrado que a comunicação é fator-chave para o sucesso no movimento sindical. Ignorar esse componente tem sido o maior erro estratégico cometido por quem atua nesse âmbito. Pois a comunicação, seja ela eficiente ou errática, muda os efeitos de um plano, seja ele bom ou ruim. Um projeto de vanguarda e de alto impacto para as categorias e seus representados pode ser reduzido à insignificância em razão de uma comunicação fraca.


Escuta inteligente como catalizador da migração do mundo off-line para o on-line

A coluna vertebral desta nota foi a migração do mundo atual para o virtual e os impactos que esse fenômeno provocou nas instituições coletivas, principalmente naquelas ligadas ao mundo do trabalho e do emprego. Esse processo necessita que o movimento sindical tenha como escutar, na internet, a opinião e as conversações críticas que estão sendo feitas neste ecossistema. Há hoje disponível uma série de ferramentas que se dedicam a isso, no entanto, para acompanhar, entender e interferir nesse espaço requer uma que seja baseada em metodologias desenvolvidas para extrair somente as informações relevantes, capturar todas as conversações (públicas) na internet e nas redes sociais para entender tudo que é relevante, seus atores e mapear e classificar seus interesses, para, entre outras coisas, conhecer o posicionamento das organizações sindicais e dos atores sociais e políticos envolvidos; conhecer o posicionamento e ações levadas a cabo pelos que são contrários as ações do movimentos sindicais; melhorar a percepção sobre o que pensa a cidadania frente às decisões tomadas pelo movimento; melhorar a leitura das demandas dos atores trabalhistas; estabelecer um monitoramento constante de ações e contingências; preparar-se para atuar na prevenção e manejo de crises no ambiente virtual.

A Escuta Inteligente[ii] consiste em aliar ferramentas de Escuta Ativa na Internet, que fazem a captura e organização das conversações, com recursos de Planejamento Estratégico Situacional, Estudo de Atores, Análise Estratégica, Construção de Viabilidade política de um projeto e outras perícias advindas da experiência e capacitação de nossa equipe nas Ciências e Técnicas de Governo, entregando como resultado do monitoramento não somente os dados consolidados, mas principalmente a análise e recomendações das informações relevantes para a Organização.

Por fim, postulamos que a incorporação de ferramentas e métodos, como as descritos acima, para entender e atuar no mundo da internet, é um fator determinante para o processo de modernização do sindicalismo brasileiro para que ele possa apoiar a transição das organizações sindicais para o universo digital. Para tanto, o movimento sindical deve dispor de recursos tecnológicos para capturar todas as conversações que se dão no espaço virtual, utilizar metodologias para planejar estrategicamente o que vai escutar e analisar e, com essas informações, alimentar um sistema de suporte a decisões capaz de fornecer direcionalidade estratégica, possibilitar o posicionamento na internet e nas redes sociais e de abrir canais de comunicação poli direcionais com todos os atores e interessados que participam do jogo político sindical.

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Aristogiton Moura. Professor convidado da USCS, Professor e Consultor da FIA – Fundação Instituto de Administração da USP, Consultor internacional em Ciências e Técnicas de Governo, formado por Carlos Matus da Fundação Altadir, tendo trabalhado diretamente com esse entre 1992 e 1998. Na Fundação Altadir, foi seu assessor Direto, atuando como professor, consultor e coordenador dos cursos, seminários, consultorias, assessorias, no Brasil e na América Latina. Atualmente representante exclusivo da Fundação Altadir no Brasil, Presidente do Instituto Carlos Matus de Ciências e Técnicas de Governo, Diretor Presidente da Strategia Consultores e Diretor da Autoritas Consulting Brasil.

Notas e Referências Bibliográficas

1.PELLANDA, Eduardo C. A essência da internet. Revista Fronteiras do Pensamento. Jun., 2016. Disponível em: <https://www.fronteiras.com/artigos/a-essencia-da-internet>.

2. WORLD ECONOMIC FORUM. Global Challenge Insight Report. World Economic Forum, Geneva. 2016.Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/WEF_Future_of_Jobs.pdf>.

3. GAFAM é o acrônimo de gigantes da Web, Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft , que são cinco grandes empresas dos EUA, nascidas nos últimos anos do século XX ou início do século XXI (exceto a Microsoft, fundada em 1975, e a Apple, em 1976), que dominam o mercado digital[1]. Às vezes também são referidas como os "Big Four", os "Cinco Grandes", ou mesmo "Os Cinco". https://pt.wikipedia.org/wiki/GAFAM.

4.BAUMANN, Zygmunt. Tempos líquidos. São Paulo: Zahar, 2007.

5. MOURA, Aristogiton. Modernizar, governar e fazer política em tempos líquidos. In: OBSERVATÓRIO DE Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS – CONJUSCS. Universidade Municipal de São Caetano do Sul, abr., 2019, p. 158-167.

6. Programa “Dialogando”, entrevistado pelo Dr. Ricardo Dealecsandris, dia 21 de maio de 1998 para o Canal Plus Satelitel.

7. BAUMANN, Zygmunt. Tempos líquidos. São Paulo: Zahar, 2007.

8. FARA, C. - El peronismo, en busca de la unidad perdida y sin liderazgos nítidos. Disponível em: <https://www.analisislatino.com/opinion/?id=11478>.

9. GRAMSCI, Antonio. Selections of the Prison Notebooks. New York: International Publishers,1971, p. 275-276.

10. SINDICATO DOS QUÍMICOS DO ABC. Informe especial Ação frente às multinacionais na América Latina. n. 16, jul.-ago., 2017. Disponível em: <http://www.quimicosabc.org.br/system/uploads/materiais/342/arquivo/especifico-industria-4-0-n16.pdf>.

11.I NNERARITY, Daniel. Instrucciones para sobrevivir a la perplejidad política. El País. Publicado em 27.fev.2018. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2018/02/26/opinion/1519663307_617233.html

12. DUDA, John. Conferência Cooperativismo de Plataforma - Democracy Collaborative. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/566381-para-que-a-internet-nao-devaste-a-sociedade>.

13. MATUS, Carlos, R., cientista político chileno. Pioneiro das Ciências e Técnicas de Governo. https://www.institutocarlosmatus.com/blank-qd8r5

14. SLEE, T. – Uberização, a nova onda do trabalho precarizado – Ed. Elefante, 2017.

15. SLEE, Tom. What’s Yours is Mine: Against the Sharing Economy. New York: Or Books, 2015.

16. MATUS, Carlos, R. – Teoria do Jogo Social – Edições Ciências e Técnicas de Governo – Fundap – SP, 1996.


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